sexta-feira, 20 de janeiro de 2012



  Visualizou memórias das quais gostava de rever. Tinha em seus olhos o brilho frio da tela em cristal nítido de sua Tv. Na qual passava alguma programação sobre crianças, cheias de esperanças e sorrisos expostos ao vento. Era uma beleza em desalento, não fazia mais sentido, não tinha lá concreta explicação. Pareciam apenas crianças felizes, por ainda não conhecerem a função do coração. Que carregavam dentro delas com a única utilização de dizer às bonecas “Óh minha filhinha, como eu te amo”.
  E apesar disso passar um certo encanto, corroía como ácido as retinas, era uma inquietude contínua que não permitia ficar sentada sem se manifestar.

  Porém não houve manifesto. Só tinha em sua face a expressão de um excesso que nem vivia mais dentro dela. Lembranças de uma infância e aprendizados, machucados e puxadelas pelo braço. Vivia sempre fazendo bagunça, e não gostava muito das horas-de-parar. Quebrava brinquedos, fazia pirraça puxando os cabelos e depois sempre desistia de brincar. Tinha estragado sua filha que à uns minutos atrás dizia amar. 
Mas cá entre nós, era coisa de criança. Atos bobos que ganhavam fácil relevância. Não tinha muito com o que se preocupar. Mais cedo ou mais tarde ganharia uma boneca nova. Aquela sem perna ou sem braço, seria apenas o verso esquecido de uma trova. Não lhe apeteceria cantar. 

  E trazendo-se de volta num colapso de consciência, estava ela se perguntando onde encontrava-se a evolução, o crescimento. Eram aparentemente fúteis esses pensamentos, porém respondiam coisas, ou exerciam o poder de formular novas perguntas… De certo modo, do qual ela nunca pôde imaginar.
  Se olhava com interrogo, pelas mãos via os mesmos dedos de sempre. Suas unhas cresceram um pouco, porém não passavam de unhas. Seus olhos ainda brilhavam, mesmo que por maioria das vezes fosse falso, ela sabia como fazer brilhar.
  Sua voz se desenvolvera, seu cabelo mudara num corte desconectado de forma grotesca. Percebendo então que mudou muitas coisas em si, que talvez não a machucassem se ainda fossem as mesmas…

  O que realmente havia de mudar ela mudou. Não se arrependeu. Se achou mais forte, mais independente. Pena que ainda era tola, de um modo diferente. Fez-se mais intensa, ultrapassando o amor por suas ‘filhas’. Encarou novos amores da vida, e se arriscou em perder - seu amor próprio - por uma suposta ilusão. Entregou-se de bandeja para ganhar um coração, como numa brincadeira de casinha, esperava pelo seu chá imaginário. 
  Quando algo se fez notório, gritante e claro…

  “Largava eu por desinteresse, bonecas sem pernas ou braços. Hoje choro com saudade e vontade de um abraço. Por quem sequer possui um coração… E mesmo assim não me desfaço, não aprendi a lição. Tenho corrido atrás do fardo de dividir com ele, esses batimentos intensos de um sentimento sem possibilidade de reversão.”

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