sexta-feira, 20 de janeiro de 2012


  Hoje te vi levantar da cama com a mesma expressão Bukowskiana de sempre. Por quê diabos eu não pude entender… Ontem me contou que estava amando e hoje vi amargura em seu ser. Quem sabe então estivesse ‘À mando do esmorecer’
  Desdenhava com classe da felicidade. E seus olhos em concordância faziam questão de não transparecer. Dava mesmo para acreditar que a solidão faria cordial vizinhança ao coração, que com surpreendente esperança, ainda pulsava dentro de você.
  
- Gladys tens a frieza de seu pai em contraproposta ao coração tolo de sua mãe! - dizia quem a conhecia, e no fundo ela sabia…
  “Malditos cromossomos, herança indesejável para que sejamos parte de pessoas que nunca fomos. Predeterminando como deveremos ser.” - Gladys despejava palavras abarrotadas de raiva, quando sentia uma guerra fria tomar início em seu interior. Sem poder evitar ou recorrer à meios que solucionassem o desentendimento, dela para com o anonimato de seu próprio ser à se desconhecer.

  E costumava caçoar de sua pútrida desgraça. Não tinha o conformismo relatado no seu histórico de exames sanguíneos. Algumas plaquetas em falta, mas nada que prejudicasse diretamente sua saúde. 
  Gladys tinha plena consciência que qualquer fracasso não possuiria nenhuma outra explicação, a não ser sua própria fraqueza. Quem sabe desistência, ou medo… Todavia seria culpa de seu ego, em obsoleto desespero sem querer pedir ajuda, ou apenas uma mão na qual pudesse se afirmar.

  Não era orgulho. Era desejo de liberdade, autenticidade. Independência colocada em prática de forma errada, que aos poucos deixava-se levar ao declínio dentre seus mais solícitos soluços de solidão… 

  Gladys ouvia sempre falar sobre ingratidão. E dentre brigas e conversas, as verdades ecoavam como se nada mais fosse importante naquela família.
  Era com ela que aprendera a se mostrar, transparecer. E era com ele que tinha conquistado o dom de se proteger. Ela falava sobre sentimentos. E ele afirmava que existiam momentos exatos, escolhidos e até provocados para sofrer. Ela contava sobre uma escolha que não existia ao se apaixonar. Já ele contestava que tinha escolhido-a, mesmo com tal arrependimento desse proceder. Ela falava sobre uma felicidade que não durava alguns momentos. No entanto ele retrocedia à felicidade que ao lado dela tardio e momentaneamente, pôde dar fim ao perceber que tinha se entregado ao luxo de amar. Aos braços de um ser bobo, tolo e enamorado por quem tão posteriormente viria à lhe deixar…  

  E se não eram esses, bons motivos para criar-se dúvidas. O que tinha Gladys atravessado em sua garganta?
  Com certeza algo mais contundente que a desesperança, e mais corrosivo que a tristeza. Se chamava frieza, e ela estava apenas começando a se enraizar.

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