sexta-feira, 20 de janeiro de 2012


  Pés expostos ao solo frio, olhos profundos, coração vazio, mente suja. Acordava deste modo, esquecendo na cama sua alma de pétala branca. Que manchava-se em meio aos lençóis, com lágrimas de tristeza. Lágrimas que transcendiam dela a pureza, que guardava em seu coração. Estava se melecando com a melancolia de uma solidão. Subtamente existente em si, para o seu mundo. Criado por ela em um momento profano, coberto de insultos.

  Demonstrava ódio no peito, por alguém que jamais se distanciaria. Trazia consigo os males de uma vida, que nem tanto lhe apetecia, porém era sua por direito e não poderia negar, largar. Como por muitos e longos murmúrios, desejava. Bocejava seu desprezo em frente ao espelho, por repetidas manhãs assim que acabava de acordar. Parecia um combustível estimulante, fazendo-a notar a realidade e não esquecer de pôr os pés no chão. 

  Pés descalços, olhos quase fechados, coração doído, mente fadigada. Ela se olhava, sem muita admiração. Via no espelho uma reflexão que não permitia acreditar. De fato talvez não fosse ela, ou quem sabe aquela da qual gostaria de enxergar. Alguns desavisados viam mais beleza por fora do que por dentro. Aquela com a que seu coração deveria se inundar, até estremecer as paredes de seu peito. Fazendo-a sentir-se direito. Como quem vive, tendo sentimentos. Como quem vive, sabendo amar. Sabia o quanto era capaz, de sorrir mais e melhor. Mas por algum motivo, estivera abertamente transparente a demonstrar o insistente choro. Que escorria pelo seu rosto, levemente salgado, originando-se de seus olhos sendo findados em seu queixo. Pingando sobre o peito, escorrendo sem destino como só ele. 

  Durante esses dias, não conhecia-se a vontade de sair. Se pudesse escolher, ficava estática. Parada ali. Não de frente para o espelho, tinha repugna e um certo medo. Perdia sempre a noção em que qual ângulo estava. Se era de frente, ou de lado que se olhava. Ou se era ela naquele reflexo, e não a que estava nela. 

  Daquela que todos os dias a enganava. Fazia com que ela tivesse uma visão de si, que não era realmente desse modo com o qual era vista. 
Quem garantia que a menina que todo mundo tocava e abraçava, era a mesma que tinha suas aparições expostas no espelho quando ela passava em frente à ele? 

  Era assustador saber que talvez conhecesse, um outro lado de si que ninguém podia ver. E perguntava-se por inúmeras vezes, o que deveria fazer… Deixá-los ver o que conseguiam extrair do olhar da bela garota, ou demonstrar claramente o que escondia-se na escuridão de seus olhos? 

  Mais uma vez ela escolheu o mistério. Que viessem abri-la para conserta-la, que viessem vê-la sorrir, para saber quando esses sorrisos queriam mesmo era chorar... 
Que se arriscassem, então assim valeria a pena. 
  Esperta e delicada, grandiosa porém pequena. Ela sabia o que fazer, e escolheu se transformar num abismo. 

  Um louco impulsivo, com espírito cheio, alma branca e coração infindo, se afundaria em sua escuridão. Arrancaria as estacas de medo de seu coração, e faria dela um amor pra se guardar. Pra se expor. Mais do que tudo, para se amar. 

  E como por muitas vezes, à espera dele ela dizia… “Te quero aqui meu anjo, presente por um dia. Para numa noite fria, calar com um simples beijo as lamúrias de toda uma vida. Vem e me surrupia, me tira da frente desse aço de sentimentos escassos, e faz-se o reflexo mais caloroso que já pude ver. Do meu próprio ser."

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