sexta-feira, 20 de janeiro de 2012



 Ela confundia sonhos, e desejos com expectativas. Ter vontade, não necessariamente precisava fazer-se um plano. Ou algo que ganhasse dela, uma boa porcentagem de probabilidade para acontecer. 
  Apostava boa parte de suas fichas no cavalo mais belo, alvo e robusto. Esquecendo que o mais esmorecido, estava apenas abatido por ter dedicado-se à se fortalecer. À aumentar a capacidade da corrida, ou quem sabe à alimentar-se mais de esperanças… Que à cada decepção, fazia-o perder sangue… Como quem perde fios de cabelo pelo vento.
  De qualquer forma, era possível notar que Gladys dedicava desde o muito até o pouco, mas sempre penhorava parte dos seus bens sentimentais, pelo que quer que fosse, que estivesse por almejar… Mesmo depois da tão memorizada “Regra da ema idiota”, ela não conseguia por completo executar. 
  “Esforçar-se para obter. Todavia não tendo sucesso… Mudar de objetivo. Ainda sendo isso impossível… Abandonar!”

  Mas não podia, e nem queria abandonar. Como assim abandonar!?
Não importava, o que estivesse à procurar. Desistir, não seria em específico largar de mão o que não conseguiu conquistar. Mas sim abdicar as suas forças, de ainda pôr em prática a esperança… Do verbo esperançar. De quem quer alcançar.

  Eram esses, dentre outros raros pensamentos otimistas, que mantinham vida dentro de Gladys. Vida essa que depois de certa idade, certas quedas e decepções começou a criar receios. E as tão famosas expectativas. Que insistiam em formular a imagem do que seria, e de como seria, tal coisa que ainda iria chegar. E se chegasse…

  De qualquer forma, era apenas mais uma faceta para a traiçoeira da ilusão.
  O mais intrigante era reconhecer que estava tudo dentro dela. E talvez fosse esse, um dos motivos pelos quais ter tanto ódio de si mesma.

  Desde o lado bom, até o lado mais maléfico. A partir da solidão, até a ironia sádica de fazer graça com a falta de afeto. Estava em contraproposta ao masoquismo, o seu lado mais carinhoso.
  Todavia, era notável que um despertava o outro. Já que não haveria dor, se não fosse eminente a vontade de não senti-la… Era exatamente a repulsa, que causava a rebelião mais contínua. 
  Tanto como num breve resumo, não haveria vida sem a certeza garantida de que haveria de morrer. Mas para que a morte fosse prazerosa, ainda precisava encontrar o teor exato de viver...

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